Na nossa Viagem à Alma da India, no passado mês de Outubro, um dos locais mais especiais que visitamos foi o Ashram de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, situado aos pés da Montanha Sagrada de Arunachala.
Neste local e em toda a sua envolvência, conseguimos sentir e vivenciar profundamente o legado deixado por este Ser tão especial.
A Sua presença pode ser sentida na paz e serenidade que este lugar irradia, seja em cada mantra que é entoado, em cada Puja (cerimónia), a cada refeição em silêncio (onde tal como Ramana nos sentávamos no chão e comíamos com as mãos uma comida deliciosa assente numa folha de bananeira), na energia indiscritível nas grutas onde ele viveu (Skandashram e Virupaksha) ou simplesmente andando descalço pela montanha sentindo o seu poder.
Deixamos aqui um pouco da sua história:
Sri Ramana Maharshi nasceu na região do Tamil Nadu, sul da Índia. Aos 16 anos, após a morte do pai, passou por uma vívida experiência relacionada com a morte e, em virtude disto, despertou para o estado que transcende, origina, constitui e engloba os campos físico, emocional e intelectual, passando a viver permanentemente nesse estado, por alguns denominado realização espiritual. Depois de algum tempo, abandonou sua casa e família e partiu como sadhu (peregrino ou eremita) para a cidade de Tiruvannamalai, onde passou o resto da sua vida na montanha de Arunachala, considerada por ele como uma montanha sagrada.
Durante toda a sua vida, não mais se separou de Arunachala onde viveu em diferentes cavernas, passando a ser conhecido como o “Maharshi” (grande sábio ou vidente) e "Bhagavan", o Senhor.
Lenta e gradualmente, vários discípulos foram-se reunindo à sua volta. Vinte e sete anos após a sua chegada a Tiruvannamalai, um "ashram" ou comunidade espiritual foi construído ao redor do túmulo de sua mãe, aos pés da Montanha Sagrada de Arunachala, onde passou a residir até o fim de seus dias. Essa comunidade, chamada "Ramanashram", tornou-se um local mundialmente conhecido, para onde se dirigiam (e ainda se dirigem, em número crescente) buscadores espirituais de diversas origens religiosas.
Bhagavan Sri Râmana Mahârshi, mestre de Advaita Vedanta e homem santo do sul da Índia, é considerado um dos maiores sábios de todos os tempos. Tornou-se conhecido no Ocidente especialmente através do livro "A Índia Secreta", do jornalista e escritor inglês Paul Brunton, que retratou os ensinamentos de Ramana, transmitidos, na maioria das vezes, em silêncio absoluto aos seus discípulos.
Sri Ramana Maharshi foi o grande representante da sabedoria milenar da Índia no século XX. Isso não significa que ele foi um académico que sabia de cor e salteado os textos sagrados da religião, mas sim que viveu e mesmo personificou à perfeição tal sabedoria. Na verdade, ele não escreveu nenhum livro. Ensinava o Jñana, ‘via do conhecimento espiritual’ mais puro. Ao mesmo tempo, ressaltava que as outras duas outras grandes vias espirituais, a do karma (das ações) e da bhakti (devoção) estavam contidas no Jñana.
A Sua presença, que irradiava uma grande paz, tornando fácil e natural a convivência na comunidade, inclusive com os animais selvagens que habitavam a montanha, atraiu milhares de pessoas a Arunachala. A essência dos seus ensinamentos é o "Vichara"(self-enquiry), ou investigação direta, interior, por meio dos questionamentos: "Quem sou eu?" e "De onde surge o pensamento 'eu'?", para a descoberta da "Verdade, Paz ou Bem-Aventurança, a nossa real natureza". "Descoberta" no sentido literal de "retirar o que cobre", os conceitos. Em vários momentos, Ramana nos alerta que não se trata de mero questionamento verbal, mecânico, mas de trazer sempre ao foco da atenção, por meio desse questionamento, a sensação do "eu sou", que é a única coisa real, visto que todas as outras coisas mudam e passam, são transitórias, enquanto esta consciência do eu permanece. Tal questionamento faz com que a atenção se volte para o estado natural que ultrapassa o conhecimento, levando à percepção da inevitável limitação de todos os conceitos, o que faz com que, gradualmente, definhem e percam sua tirania sobre a mente, deixando de se sobrepor "àquilo que verdadeiramente é".
Nesse estado de silêncio vivo, desperto, o conhecedor, o conhecimento e o objeto do conhecimento, qualquer que seja ele, são um só. Só há separação no mundo das representações, das construções mentais, no mundo "daquilo que não é". Nesse sentido, conhecer a verdade acerca de si mesmo é conhecer a verdade acerca de todos os seres e de todas as coisas. Conhecer a verdade acerca de si mesmo é ser essa verdade, já que não somos dois, um para conhecer o outro. Cada um é a própria Verdade absoluta; ou Deus, para usar uma outra palavra.
A expressão "auto-realização", nos diz Ramana Maharshi, é apenas um eufemismo para "remoção da ignorância". Nada há para ser adquirido; há, apenas, ignorância a ser removida. Somos a própria vida, o Ser Infinito, a fonte de todas as coisas.
Om Namah Shivaya
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